DECO BANCILLON
A elevação dos juros acima de 8,5% pelo Banco Central, que deverá ocorrer amanhã, tornará a caderneta mais atraente
Quinze meses depois de ter alterado a forma de remuneração da caderneta de poupança, o governo voltará a mexer na rentabilidade da aplicação financeira mais popular do país. Caso o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decida dar continuidade ao processo de elevação dos juros básicos da economia, que atualmente estão em 8,5% ao ano, os depósitos na caderneta deverão render pelo menos 0,5% ao mês. Hoje, a correção é definida por 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR). Como essa taxa quase sempre fica zerada, o poupador recebe, em média, 0,48% ao mês.
Parece pouco, mas, para especialistas ouvidos pelo Correio, a diferença de 0,2% ao mês na correção tornará a poupança ainda mais atraente. “Hoje, sem dúvida, essa é a melhor opção de aplicação para o pequeno investidor, porque, além de ser isenta de Imposto de Renda (IR), ela é fácil de entender e absolutamente segura na hora de receber”, disse o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello.
Mesmo antes de o governo mudar a forma de cálculo da caderneta, em maio de 2012, os depósitos na poupança já vinham superando os saques mês a mês. Em julho, a chamada captação líquida chegou a R$ 9,331 bilhões, o maior resultado já registrado para meses de julho e o segundo melhor desempenho da história, ficando atrás somente de junho deste ano, quando os depósitos ultrapassaram os saques em R$ 9,451 bilhões. Em agosto, até o dia 20, o saldo está positivo em R$ 1,914 bilhão, segundo dados do BC.
Tamanho apetite pela caderneta reflete o baixo interesse do brasileiro por modalidades de investimentos menos conservadoras, como fundos de renda fixa, que geralmente rendem mais. Essa lógica se inverteu, no entanto, a partir do momento em que os juros básicos caíram ao menor patamar histórico, 7,25% ao ano. Como são tributados pelo IR e também cobram taxa de administração dos cotistas, os fundos acabam sendo menos vantajosos que a poupança na maior parte dos casos.
Um levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) mostrou que, independentemente do prazo de resgate da aplicação, apenas os fundos com taxa de administração inferior a 0,5% ao mês conseguem bater a caderneta (veja quadro). Porém, conforme esclareceu a entidade, essa taxa normalmente só é oferecida para aplicações de valores superiores a R$ 50 mil. Para o especialista em finanças pessoais Silvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), apenas se os juros básicos subirem acima de 10% ao ano os fundos voltariam a se tornar mais vantajosos que a poupança.
Vantagens
“Qualquer patamar abaixo disso, eu recomendo a caderneta, não só pela remuneração, mas porque é uma aplicação que não exige muito conhecimento nem esforço de compreensão”, disse. Ele esclarece, no entanto, que da mesma forma que as aplicações financeiras se tornam mais vantajosas com a alta dos juros, também as dívidas tendem a ficar mais caras para o consumidor com a elevação da Selic. “Por isso”, ele adverte, “quem já está com a corda no pescoço tem que começar a se preparar para a alta dos juros para eliminar logo as dívidas contraídas, porque, na ponta, elas tendem a ficar maiores”, apontou.
A especialista em educação financeira, Cassia D" Aquino diz que é normal encontrar consumidores endividados que possuam aplicações financeiras, seja caderneta de poupança seja até mesmo fundo de investimento. Para essas pessoas, Cassia é taxativa: “Desde que o mundo é mundo, nenhuma forma de aplicação vai render mais do que a taxa de juros que os consumidores pagam em empréstimos já contraídos”, disse. Isso acontece porque o endividado tem a sensação de que estará protegido se tiver algum dinheiro guardado, ainda que ele pague muito mais em juros de empréstimos e financiamentos contraídos.
Fonte: Correio Braziliense - 27/08/2013