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Dólar dispara, mas não falta

Há uma crise externa a caminho do Brasil e outra, interna, de maior capacidade destrutiva. Embora dialoguem entre si, elas não falam exatamente a mesma coisa. As empresas de classificação de risco castigam o país pelo desajuste fiscal, isto é, pela veloz disparada da dívida em reais feita pelo Estado. Fundo Monetário Internacional e outras instituições multilaterais colocam o Brasil entre os países que estão em maus lençóis especialmente pelo aumento da dívida privada feita em dólares, onde faz companhia aos demais países emergentes.

Ainda que sejam comuns festivais de endividamento simultâneo estatal e privado, é possível discernir uma hierarquia de riscos. A porção doméstica da economia se deteriorou bem mais rapidamente que a externa, privilegiada com defesas de US$ 370 bilhões.

A crise de 2008 foi provocada por farta expansão do crédito e endividamento, apoiada na irresponsabilidade dos bancos. Agora, após políticas trilionárias de afrouxamento monetário, os países emergentes estariam, eles também, à beira da purgação de um ciclo de excesso de dívidas, tanto mais insuportáveis quanto mais se desaceleram suas economias e mais o dólar se fortalece. A sempre adiada elevação dos juros pelo Fed forma a tríplice aliança dos riscos.

O overshooting do dólar ocorre sem fuga expressiva de capitais e nível de endividamento externo razoável

Quando a crise estourou, as dívidas totais dos países equivaliam a 269% do PIB global. Apesar da recessão e desalavancagem nos países desenvolvidos, o endividamento total subiu em 2014 para 286% do PIB, segundo o FMI. As dívidas cresceram US$ 57 trilhões desde 2007, metade nos emergentes e um quarto nas empresas não financeiras. Todos se endividaram, uns mais que os outros.

Os mercados olham com severidade para os países da América Latina, em dificuldades pela queda dos preços das commodities e às voltas com dívidas em alta. Mas a festa mesmo ocorreu nos países asiáticos, com a China respondendo por pelo menos metade do endividamento.

A fatia das dívidas de empresas brasileiras cresceu o equivalente a 7,3% do PIB, segundo o Instituto de Finanças Internacionais e atingiu 15% do PIB ao longo de dez anos, de acordo com o FMI. Cálculo parecido tem o Banco Central, que crava 18,2% do PIB, em junho, o endividamento externo de companhias não financeiras - elas têm 28,1% do PIB em débitos em moeda local.

Embora o endividamento total brasileiro seja o sétimo maior entre 17 principais emergentes avaliados pelo FMI, a parcela externa da dívida é a menor de todas, com exceção da Argentina. Ao contrário, por exemplo, de vários países asiáticos, o crédito desacelerou no ano passado e despenca em 2015. Como o dólar subiu e os juros também, a dívida cresceu como proporção das receitas que, por seu lado, estão sendo abatidas pela recessão. A alavancagem subiu e nesse ponto, as empresas nacionais só perdem para Chile e México. Elas vão mal também na relação entre Ebitda e despesas com juros (está abaixo de 2).

Ainda que a situação financeira esteja piorando pela desvalorização do real, um bom sinal é que o hedge "natural", medido pela relação entre exportações e vendas totais é maior do que a fatia dos débitos externos sobre o total das dívidas. ("Fazendo teste de stress nas companhias dos países emergentes", IMF Working Paper, setembro). No pior cenário de estresse, equivalente ao da crise de 2008, as dívidas não pagas das companhias do país dobrariam o nível de inadimplência dos bancos para perto de 10%, um golpe que seria plenamente absorvido por bancos altamente capitalizados e resistentes - da amostra, com capacidade para enfrentar adversidades só inferior aos da Indonésia e México.

A vulnerabilidade brasileira é possivelmente menor do que está sendo alardeada. Em seu Relatório de Estabilidade Global, o FMI mostra que na América Latina, o setor de construção lidera em dívidas, seguido pelas companhias de óleo e gás. Uma hipótese quase certeira é que a Petrobras distorce os resultados. Sua dívida em moeda estrangeira era de US$ 111 bilhões no fim do primeiro semestre, quando a dívida total externa do setor privado, inclusive o bancário, atingiu US$ 277 bilhões.

Os indícios de erosão observados nas crises "de antigamente" também não estão até agora presentes. "A dependência de funding externo continua reduzida", diz o BC em seu Relatório de Estabilidade Financeira, que também aponta que as captações de linhas externas para o comércio exterior se mantém estáveis, apesar de todas as turbulências. E swaps de US$ 108 bilhões (posição de sexta-feira), indicam que quase um terço da dívida privada total está hedgeada - ou quase o dobro de toda a dívida de curto prazo do país.

O overshooting do dólar ocorre, assim, sem fuga expressiva de capitais, sem cortes de linhas externas, com nível de endividamento externo razoável e reservas recordes. Era possível, embora pouco plausível, pela experiência do passado, imaginar que o crescimento da dívida em reais, e não a escassez de dólares, provocasse a disparada cambial.

O motivo é que o governo petista não tem uma política econômica para tempos ruins - a de 2003 foi manter juros altos e o tripé emprestado do governo anterior - fora a reação via aumento de gastos públicos. A fórmula deu certo em 2008, se esgotou depois deixando uma montanha de subsídios, várias pedaladas fiscais e o cadáver das políticas anticíclicas. Pior, com juros de 14,25%, recessão e inflação ao redor dos 10%.

Não é por falta de dólar que o real se desvaloriza tanto.

05/10/2015 - Fonte:  Valor Online


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