São Paulo - As preocupações do mercado com endividamento do governo aumentaram. O custo médio acumulado nos últimos 12 meses da dívida pública federal cresceu 0,68 ponto percentual para 14,99% ao ano em julho último, ante 14,31% ao ano em junho.
Esse custo pode subir ainda mais nos próximos 12 meses a se considerar o ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) atualmente em 14,25% ao ano, e o vencimento de R$ 571,05 bilhões da dívida interna e de R$ 13,19 bilhões da dívida externa no horizonte até julho de 2016.
Apenas no curto período do último mês, o estoque da dívida pública federal (DPF) aumentou R$ 20,67 bilhões em termos nominais e acumulou R$ 2,603 trilhões superando a meta anterior do Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2015.
Diante da realidade, ontem, o Tesouro Nacional comunicou a alteração do limite da meta do PAF para R$ 2,8 trilhões, com uma meta mínima de R$ 2,65 trilhões. "O governo está se adaptando à realidade, e diante da evolução do endividamento dá um norte do que está sendo feito", considera o economista-chefe da Saga Capital, Marcelo Castello Branco.
Na avaliação dele, o aumento do endividamento traz preocupações ao mercado. "Vamos esperar a peça orçamentária de 2016 para ver como o governo pretende controlar a expansão da dívida pública", afirmou.
Em nota, o Tesouro Nacional disse que maior demanda registrada nos leilões de títulos públicos ao longo do ano é um fator que vem contribuindo para a realização de um maior percentual de refinanciamento da dívida, favorecendo, assim, o ajuste na estratégia para o estoque da DPF. "É importante lembrar que essa política não afeta a Dívida Líquida do Setor Público ou a Dívida Bruta do Governo Geral", assegurou o Tesouro.
De fato, pelo relatório mensal da dívida pública publicado ontem percebe-se que os investidores têm assegurado o financiamento e a expansão da dívida pública federal.
O setor de previdência - por exemplo - aumentou sua participação em R$ 116,3 bilhões no estoque para o montante acumulado de R$ 489,03 bilhões em julho, ante o volume de R$ 372,73 bilhões em dezembro do ano passado. "Os juros reais estão muito altos. IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] mais 7% ao ano são taxas bem atraentes para planos de previdência", diz o sócio da gestora Áquilla Asset, Fernando Aldabalde.
Por outro lado, os investidores estrangeiros que estiveram mais animados nos primeiros cinco meses do ano até maio (20,8% de participação no estoque) em adquirir títulos da dívida brasileira em reais, diminuíram sua exposição nos últimos dois meses para 19,56% do total do estoque.
"No início do ano teve um fluxo importante para o Brasil em busca de taxas de juros. Mas agora, o principal risco é do Brasil perder seu grau de investimento [nota de bom pagador]", justificou Aldabalde.
Ele explicou que não vê problemas para o governo refinanciar sua dívida no mercado, mas que o aumento dos custos é preocupante. "Um volume grande dívida será financiada no overnight por meio de operações compromissadas", apontou o executivo.
Riscos ao Brasil
Ambos os profissionais temem o comprometimento do crescimento da economia (PIB) até 2018. "O aumento da dívida pública pode exigir um ajuste fiscal cada vez maior, e traz incertezas sobre como o Brasil crescerá", disse Aldabalde.
Ernani Fagundes
25/08/2015 - Fonte: DCI