O teste é enviado a um especialista, que emite laudo pela internet
São Paulo - Pacientes em locais distantes de centros médicos agora já podem receber diagnósticos relacionados a doenças cardíacas de forma rápida e precisa. Isso graças ao novo sistema Cardiofit, que envia o exame para um especialista que o devolve com um laudo. Tudo via internet.
A nova solução foi criada pela desenvolvedora de tecnologia médica Ventrix para acelerar o atendimento aos pacientes em zonas distantes dos grandes centros. Após perceber a demanda, e receber R$ 5 milhões do Fundo de Inovação Paulista do Desenvolve SP e do Criatec II (gerido pela Bozano Investimentos), a empresa conseguiu desenvolver e comercializar o sistema.
"Hoje nós temos um problema muito grande de logística, tanto que a maior parte dos laboratórios de diagnóstico não possui eletrocardiógrafos, justamente por falta de um especialista no local", afirma o proprietário e CEO da Ventrix, Roberto Castro Júnior.
Segundo ele, com o aparelho, o profissional pode realizar o exame em qualquer cidade ou região e enviar o resultado para um especialista credenciado, que irá emitir um laudo de maneira ágil. "Uma das maiores causas de mortalidade no País são as doenças cardíacas, por isso é necessário ampliar o atendimento que não chega à maioria dos municípios e cidades brasileiras."
Para realizar o diagnóstico, entretanto, a Ventrix viu a necessidade de firmar uma parceria importante. Assim, buscou o Instituto do Coração de São Paulo (Incor SP) e o Hospital Beneficente Unimar de Marília (ABHU), no interior de São Paulo. "No momento precisamos de especialistas parceiros, mas no começo de 2016, queremos inaugurar a central exclusiva. Teremos seis médicos especialistas disponíveis 24 horas por dia", ressalta.
De acordo com o sócio da empresa, mesmo sem internet no local é possível realizar o exame off-line e enviar depois de conseguir uma rede de conexão. "Com o plantão 24 horas dos médicos é possível receber o laudo em qualquer momento de forma rápida", conta Castro Júnior.
Plataforma digital
O sistema inclui um eletrocardiograma e uma plataforma digital conectada a internet para o envio do exame e o recebimento do laudo. Além disso, possui a conexão automática entre os módulos.
Conforme a Ventrix, a aquisição do aparelho não tem custo. Contudo, para que o negócio fosse financeiramente viável, houve a escolha de que a remuneração da plataforma viesse garantida por meio do serviço. Ou seja, o valor da utilização é cobrado pelo laudo médico emitido. "O aparelho só é vendido no caso de clínicas com especialista presente."
Aportes financeiros
A maior dificuldade de iniciar a startup, segundo o empresário, foi o de conseguir todos os protocolos impostos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Mesmo que seja difícil para uma startup conseguir aportes financeiros, o mais demorado foi realizar toda a burocracia governamental", ressalta.
Antes dessa injeção de capital, a empresa só tinha recebido autorização da Anvisa para fabricar 130 aparelhos Cardiofit, que atualmente estão localizados 36 cidades diferentes. "Mas este ano recebemos a autorização para produzir e comercializar em larga escala e pretendemos chegar a todos os estados", cita Castro Júnior.
Segundo o proprietário da desenvolvedora de soluções médicas, a previsão é que este ano produzam 150 Cardiofits. Já em cinco anos, a perspectiva é que atinjam entre três e quatro mil aparelhos fabricados e emitam 100 mil laudos. Hoje, cerca de 80% do público da empresa é corporativo. "Muitas empresas precisam cumprir legislações trabalhistas, mas ficam distantes das clínicas", analisa. Por isso, a portabilidade do sistema faz com que as companhias não gastem com deslocamento e tempo de seus funcionários.
A expectativa da Ventrix, no entanto, é de realizar parcerias com secretarias e outros órgãos públicos. Desta forma, a empresa poderá atingir um maior número de centros de saúde no País e auxiliar na prática dos exames entre a população que mais necessita do serviço. "Entendemos que desta forma conseguiremos atingir um maior número de locais", foca o idealizador.
A empresa criada em 2010 possui uma fábrica localizada em Itajubá, cidade de Minas Gerais, a Ventrix conta com as áreas comercial e diretiva em São Paulo, capital. A respeito da instalação da unidade fabril no município mineiro, o sócio da companhia conta que foi uma escolha importante. "O polo acadêmico de Itajubá foi um atrativo na hora de escolher o local da fábrica."
Outros mercados
Quem pensa que a atuação da Ventrix é apenas nacional se engana. Apesar de ser uma startup, a empresa já está com seus produtos no Paraguai, onde a Ventrix possui quatro aparelhos. Além disso, a startup já está em negociação com o Ministério da Saúde daquela nação para ampliar o número de máquinas nos centros de saúde públicos.
"A tecnologia da Ventrix tem uma clara escalabilidade, inclusive para o mercado internacional, e chega para resolver um dos principais desafios da saúde no Brasil e em diversos países: a escassez de médicos e de equipamentos para diagnosticar, tratar e prevenir doenças cardíacas", diz o sócio- fundador da SP Ventures, gestora do Fundo de Inovação Paulista, Francisco Jardim.
Para ele, o Cardiofit identifica rapidamente quando se trata de um caso grave em que o paciente precisa, por exemplo, ser transferido de uma região rural para um hospital. Além de reduzir consideravelmente o custo com deslocamento.
Além do Cardiofit, a Ventrix já desenvolveu, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), um curativo a vácuo para feridas complexas que deu bons resultados e deverá ganhar um formato wearable. "Até o final deste ano, a empresa também deverá lançar uma solução para a área de neonatal", comemora Castro.
Fonte: DCI - Por: Vivian Ito - Quinta feira, 02 de abril de 2015.