BRASÍLIA - A equipe econômica acompanha com atenção a valorização do dólar frente ao real, mas não cogita, a curto prazo, adotar medidas para frear esse movimento. Se, por um lado, o câmbio valorizado pressiona os preços internos e a inflação; por outro, ajuda as contas externas, contribuindo para reduzir o déficit em transações correntes. Nos 12 meses encerrados em janeiro, o déficit externo chega a US$ 90,35 bilhões, equivalente a 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB), patamar considerado preocupante. O dólar atual, de um lado, ajuda os exportadores e a balança comercial que já acumula déficit de US$ 6,288 bilhões no ano e de outro, reduz compras no exterior e gastos com viagens. O BC divulga hoje o resultado das contas externas de fevereiro, e os números já devem refletir o impacto da aceleração do dólar.
Câmbio flutuante serve para ajustar o balanço de pagamentos destaca uma fonte da área econômica, pontuando que o impacto na inflação pode ser controlado pela calibragem na política monetária, ou seja, o Banco Central (BC) deve elevar ainda mais os juros para evitar o repasse do câmbio para os preços internos.
No dia 31, o BC deve renovar o atual programa de leilões de swap cambial (equivalente à venda de dólares no mercado futuro) e pode fazer algum ajuste na chamada ração diária, que hoje é de US$ 100 milhões. Mas nada de substancial será modificado, já que a equipe econômica está confortável, com o programa. O objetivo principal é resguardar as empresas para que lidem melhor com a volatilidade do câmbio. Hoje, metade do programa atende a empresas do setor privado não financeiro. Com o atual nível de ajuste no câmbio e a ração diária, o risco de quebrar empresas é pequeno, avaliam esses técnicos.
DIVISA AJUDA A ATRAIR INVESTIMENTOS
E, mais do que nunca, a calibragem da política monetária é considerada crucial para evitar o contágio do câmbio para os preços. Por isso, a sinalização é de que os juros terão que subir mais no curto prazo.
A política monetária está sendo ajustada para circunstar e evitar que a inflação se alastre disse uma fonte.
O cenário com que trabalha a equipe é de uma concentração de reajustes no primeiro trimestre de 2015, devido à revisão dos preços administrados (tarifas de energia e combustíveis). Essa concentração, um cocuruto, como definiu um técnico, tende a se diluir ao longo do ano e desaparecer no primeiro trimestre de 2016, com a curva da inflação convergindo para o centro da meta no final daquele ano.
A expectativa (de inflação) para 2015 está subindo. Mas, para 2016, não, e para 2017, também está parada.
O real desvalorizado ajuda na atração de investimentos, o que é mais um motivo para evitar intervenções no câmbio. Investidores têm procurado integrantes do governo mostrando disposição para investir no Brasil.
Estou recebendo muita gente com o dedo no gatilho (ou seja, pronto para detonar investimentos). Para a decisão de investimento, a Petrobras é fundamental, e o equacionamento do quadro político também é importante afirma uma fonte.
Fonte: O Globo - Terça feira, 23 de março de 2015.