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RIO e SÃO PAULO - O IBGE divulgou nesta quarta-feira novos números do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 2000 a 2011, resultantes da nova metodologia de cálculo adotada para seguir recomendações internacionais da ONU. A revisão mostrou um crescimento maior do que o divulgado antes, sobretudo em 2011, quando o PIB passou de 2,7% para 3,9%. Especialistas acreditam que, com a mudança metodológica, é menor o risco de uma recessão em 2014.
Além disso, o novo retrato do PIB vai gerar uma ampla revisão dos indicadores fiscais do país. Especialistas esperam, por um lado, uma queda na relação entre dívida pública e PIB, criando um quadro mais favorável para o Brasil frente às agências de classificação de risco internacionais. Por outro, ficará mais difícil cumprir o esforço fiscal de 1,2% do PIB de superávit primário (economia do governo para pagar juros da dívida) prometido pelo governo para este ano.
Como o impacto da mudança tende a elevar o tamanho do PIB, a LCA Consultores prevê que a meta de superávit, fixada em R$ 66,3 bilhões, deixará de corresponder ao 1,2% do PIB anunciado pelo governo. Para manter o mesmo percentual, o esforço fiscal teria que subir para R$ 70 bilhões, uma economia adicional de quase R$ 4 bilhões.
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Nas contas da mesma consultoria, a relação entre a dívida bruta e o PIB, que costuma ser observada com lupa pelas agências de classificação de risco, deverá recuar dos quase 64% de dezembro de 2014 para um pouco abaixo de 60%. A razão entre a dívida líquida do setor público e o PIB deverá cair de cerca de 37% para perto de 34%. Números melhores reduzem o risco de rebaixamento da nota de crédito do país.
O PIB de 2014 será divulgado pelo IBGE no fim deste mês. Para 2013 e 2014, a LCA estima que as revisões vão gerar uma taxa de 2,5% em 2013 e algo perto de zero no ao passado. A consultoria estima ainda uma revisão para cima do desempenho de 2012, de 1% para algo em torno de 1,5% e 2%.
ESFORÇO FISCAL EXTRA DE R$ 5 BI
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, também espera que a nova metodologia do IBGE melhore a relação dívida e PIB, mas torne mais difícil atingir a meta de superávit. Ele estima que para manter a mesma proporção do PIB, a economia do governo terá que aumentar em cerca de R$ 5 bilhões.
É irrelevante se o novo cálculo vai ajudar ou não o governo Dilma. O importante é que houve aprimoramento no cálculo. No final, o governo poderá até ter dificuldades para obter o superávit primário afirmou.
Por causa da mudança na metodologia, a previsão da MB de queda de 0,5% no PIB de 2014 deve ser revista para algo próximo a crescimento de 0,5%, segundo Vale. A projeção de queda de 1% este ano está mantida.
De acordo com os novos números divulgados pelo IBGE, em 2011 (último dado disponível), o PIB brasileiro somou R$ 4,375 trilhões. Em termos de volume, entre 2000 e 2011, houve estabilidade no PIB em três anos, ligeira alta em quatro e queda em outros três. No período, a taxa média anual de crescimento passou de 3,5% para 3,7%.
Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a revisão mais acentuada em 2011 ocorreu porque naquele ano houve a soma da incorporação de pesquisas estruturais anuais com as revisões metodológicas da nova base:
Aproveitamos para fazer uma melhoria de índices que medem o crescimento de algumas atividades, caso da construção civil, e vai ter impacto direto na taxa de crescimento do PIB. Fora isso, melhoramos o índice da saúde pública e tratamos melhor as termelétricas, o que também teve impacto positivo, porque, em 2010, elas estavam funcionando a pleno vapor.
INVESTIMENTOS AUMENTAM
Numa análise diferente, Fernando Montero, da Tullett Prebon, afirma que o crescimento de 2014 e 2015, estimados em 0% e -1%, passam a ter viés de baixa com as mudanças no cálculo, por causa do detalhamento de dados de setores como a construção civil.
O retrato é de uma economia mais cíclica num momento ainda bom avalia.
Ele reconhece, no entanto, que a mudança deve impactar positivamente o olhar de agências sobre as contas do país.
O que tem que melhorar não é a foto, mas a dinâmica avaliou Montero.
Com a nova metodologia, que considera gastos com pesquisa e despesas com prospecção de minérios como investimentos, o Brasil tem hoje uma taxa de investimento que chega a 20,6% do PIB. A taxa de poupança subiu de 17,2% para 19,4%.
Os números estavam subestimados e a realidade também, produzindo um pessimismo maior do que se esperava afirma Fernando Nogueira, ex-chefe do Departamento de Contas Nacionais e professor da Unicamp.
A Tendências Consultoria tem visão parecida com a de Sergio Vale, mas ainda não faz projeções. Por ora, a consultoria prevê queda de 0,1% no PIB de 2014 e recuo de 1,2% neste ano.
Só conseguiremos projetar algo depois do dia 27, quando o IBGE divulgar as contas trimestrais de todos os anos. Por enquanto, não dá para calcular disse Rafael Bacciotti, economista da Tendências.
Fonte: O Globo - Sexta feira, 13 de março de 2015.