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Notícias

A política e o mercado de trabalho

O horário eleitoral gratuito da campanha de 2014 teve início nesta semana e, como sempre, os candidatos apelam para críticas aos adversários enquanto prometem mundos e fundos. A novidade é que falam para um eleitorado cada vez mais exigente e ciente de seus direitos. A sociedade brasileira passa por profundas transformações e poucos se contentam hoje com as antigas e vãs promessas da classe política.

A grande causa da mudança, identificada por diversos analistas, é a queda da taxa de desemprego desde 2003. Entre os fatores estruturais que ajudam a explicar a melhoria da distribuição de renda no país nos últimos anos, o baixo desemprego é, de longe, o mais importante, tendo contribuído com cerca de 60% para a redução do índice Gini. O fato não deixa de ser discrepante diante de um PIB fraco, mas pode ser explicado por certas evidências estruturais.

Uma delas, e talvez a de maior impacto, é a drástica queda verificada na taxa de fertilidade desde os anos 80, resultando em menor pressão no mercado de trabalho. O cenário mostra um novo perfil da pirâmide demográfica, cuja base tem se estreitado rapidamente.

Estabilidade, redução do tamanho do Estado e abertura comercial mudaram a estrutura da demanda por trabalho

Um estudo elaborado pelo economista Andre de Queiroz Brunelli, do Banco Central, publicado em fevereiro, mostra quão significativo tem sido, pelo lado da oferta de mão de obra, o impacto da mudança demográfica no mercado de trabalho brasileiro.

Sob o título "Two Decades of Structural Shifts in the Brazilian Labor Market: Assessing the Unemployment Rate Changes through Stylized Facts on Labor Supply and Labor Demand" ("Duas Décadas de Movimentos Estruturais no Mercado de Trabalho Brasileiro: Estimando as Mudanças da Taxa de Desemprego através de Fatos Estilizados na Oferta de Trabalho e na Demanda por Trabalho"), o texto nota que o principal fato com relação à oferta de emprego no Brasil das últimas duas décadas é o envelhecimento da força de trabalho. Brunelli usa os dados da PNAD/IBGE, além de dados de emprego das seis principais regiões metropolitanas, e desagrega as informações por categorias como idade, escolaridade, gênero e raça.

"Os resultados obtidos a partir dos exercícios do desemprego demográfico, tendo por base aquele fato (do envelhecimento), são de que foi atenuada a taxa de crescimento do desemprego agregado durante os anos 90 em cerca de 20% tanto no país quanto nas regiões metropolitanas e reforçada a queda do desemprego em cerca de 30% no Brasil como um todo, e em cerca de 20% nas regiões metropolitanas nos anos 2000", diz o estudo.

O autor observa que também houve mudança estrutural na demanda por mão de obra, provocada pela estabilidade de 1994, pela redução do tamanho do Estado na atividade econômica e pela abertura comercial, além de outros processos que transformaram o setor de serviços no maior empregador do país. Isto ajuda a explicar a impressionante queda do desemprego na última década, depois de ter subido na década anterior.

No Brasil como um todo, a efetiva taxa do desemprego agregado aumentou 261 pontos básicos de 1992 a 2002 e sofreu um declínio de 294 pontos básicos entre 2002 e 2012. Nas regiões metropolitanas, ele apurou que a taxa efetiva de desemprego agregado cresceu 373 pontos entre 1992 e 2002, tendo caído consideravelmente 601 pontos básicos entre 2002 e 2012. Do lado da demanda por mão de obra, Brunelli investigou também o grau de importância entre o desempenho do PIB e a queda do desemprego nos últimos vinte anos e descobriu que a relação é expressiva. A variação no ciclo de negócios, um fator conjuntural, responde em boa parte pela baixa taxa de desemprego, principalmente nas regiões metropolitanas do país.

A suposição mais natural, com base nos dados recentes, seria a de que o desemprego no Brasil tende a aumentar nos próximos anos pelo impacto de baixas taxas de crescimento do PIB e pela acomodação gradual da economia à realidade da nova estrutura demográfica do país.

No entanto, isto não parece ser a tendência se for levado em conta o resultado de outra pesquisa, realizada por Loukas Karabarbounis e Brent Neiman, economistas da Universidade de Chicago, e publicada sob o título "The Global Decline of the Labor Share" ("O Declínio Global da Participação do Trabalho").

Eles observam que desde o início dos anos 80, o fator trabalho vem reduzindo a sua participação na riqueza global devido ao menor custo do capital pela redução nos preços dos bens de investimento (computadores e outros equipamentos ligados a TI), em comparação com os preços dos bens de consumo.

Ou seja, ao longo das últimas quase quatro décadas, o fator trabalho tem sido substituído pelo fator capital. A pesquisa envolveu 59 países, dos quais 42 apresentaram queda da participação do fator trabalho na sua renda. Na documentação coletada, foi verificada redução de 5 pontos de percentagem no valor bruto pago ao fator trabalho nos últimos 35 anos.

O Brasil é uma das raras exceções da pesquisa. Um ponto fora da curva, a economia brasileira destoa do resto e aponta para uma expansão da fatia do trabalho no PIB do país nos próximos anos. Junto com o Brasil, apenas a Ucrânia apresenta resultado semelhante. "Na nossa análise, o Brasil realmente experimentou um aumento no preço dos bens de investimento e a nossa teoria prediz que a participação do trabalho na renda do país deve aumentar", observou Karabarbounis para a coluna, adiantando que a pesquisa não considerou outros aspectos que poderiam explicar a tendência de maior participação do trabalho na renda do país. Aos políticos brasileiros, que coloquem as barbas de molho!

Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação Inteligente e autora do livro "A Real História do Real". Escreve mensalmente às quintas-feiras. mclaraprado@ig.com.br

Fonte:  Valor Online / Gestão Sindical - 21/08/2014


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